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1. Análise da Abstenção
A abstenção é um índice importante numa democracia, representando o voluntarismo ao voto por parte dos cidadãos ou o seu descontentamento pela classe política em geral em quem não confia o seu voto.
Esta análise tem em conta os actos eleitorais desde o 25 de Abril de 1974 para os vários orgãos: presidência da República, assembleia da República, autarquias e parlamento europeu.
Tem como objectivo avaliar a tendência da abstenção quer em valores percentuais quer em valores absolutos (número de eleitores).
Segundo as regras existentes, para o apuramento dos resultados finais de qualquer acto eleitoral, somente os votos válidos são considerados, sendo os votos em branco e nulos descartados e apresentados somente para estatística.
Esta prática é relativamente enganadora pois faz-se referência ao número de votantes no seu total, talvez para diminuir um pouco o impacto da abstenção, quando na realidade a percentagem relativa aos votos nulos e em branco é ignorada.
Que os votos nulos sejam descartados não deve levantar muita discussão mas já os votos em branco poderiam ser considerados como abstenção. Numa análise filosófica, poderiamos mesmo consideram os votos em branco como a verdadeira demonstração da abstenção dos eleitores.
No entanto o termo abstenção representa somente quem não votou.
Nesta análise, com base nos valores oficiais, criámos a abstenção corrigida que engloba a abstenção oficial e os votos em branco e, os votantes efectivos que considera o total de votantes menos os votos em branco e nulos.
Procuramos assim dar a visão geral para quem considere os votos em branco como abstenção.
Por outro lado, não sendo os votos em branco e nulos considerados no apuramento de resultados, os votantes efectivos dão uma visão mais real face às regras existentes.
1.1. Presidenciais
As eleições presidencias elegem o Presidente da República.
A abstenção tem evoluído da seguinte forma:
Nota-se uma evolução crescente da abstenção embora não constante, alternando aumentos com reduções.
Como curiosidade, os picos de abstenção de 1991, 2001 e 2011 correspondem à reeleição de Mário Soares, Jorge Sampaio e Cavaco Silva respectivamente.
A reeleição de Ramalho Eanes em 1980 teve a menor abstenção de sempre.
Já a reeleição de Cavaco Silva em 2011 teve a maior abstenção de sempre.
A diferença entre a abstenção oficial e a corrigida é em média de 0,75%, sendo que os votos em branco são em média de 64.996
Quanto à evolução em valores absolutos:
Embora haja uma tendência para a subida da abstenção e a diminuição dos votantes, não é clara uma associação com o aumento de inscritos.
Eis o quadro com os valores em bruto:
Ano |
Total Inscritos |
Votantes |
Abstenções |
Brancos |
Nulos |
1976 |
6.467.480 |
4.881.125 |
1.586.355 |
20.253 |
43.242 |
1980 |
6.920.869 |
5.840.332 |
1.080.537 |
16.076 |
44.014 |
1986 (1ª v) |
7.617.257 |
5.742.151 |
1.875.106 |
17.709 |
46.334 |
1986 (2ª v) |
7.612.733 |
5.937.100 |
1.675.633 |
20.436 |
33.844 |
1991 |
8.202.812 |
5.098.768 |
3.104.044 |
112.877 |
68.037 |
1996 |
8.693.636 |
5.762.978 |
2.930.658 |
63.463 |
69.328 |
2001 |
8.950.905 |
4.449.800 |
4.501.105 |
82.391 |
45.510 |
2006 |
9.085.339 |
5.590.132 |
3.495.207 |
59.636 |
43.149 |
2011 |
9.657.312 |
4.492.453 |
5.164.859 |
192.127 |
85.466 |
1.2. Legislativas
As eleições legislativas elegem os deputados à Assembleia da República.
A abstenção tem evoluído da seguinte forma:
Há uma clara tendência para o aumento da abstenção, mesmo com os poucos pontos de inflexão.
De referir que os dois primeiros actos eleitorais registaram zero votos em branco. Possivelmente os votos em branco eram considerados como nulos.
A diferença entre a abstenção oficial e a corrigida é em média de 0,57%, sendo que os votos em branco são em média de 48.221
Os últimos dois actos eleitorais contrariam esta média, registando um aumento significativo dos votos em branco para a ordem dos 100.000
Quanto à evolução em valores absolutos:
Enquanto os votantes efectivos apresentam uma evolução relativamente estável, a abstenção segue uma linha de aumento acompanhando o aumento de inscritos.
Eis o quadro com os valores em bruto:
Ano |
Total Inscritos |
Votantes |
Abstenções |
Brancos |
Nulos |
1975 |
6.231.372 |
5.711.829 |
519.543 |
0 |
396.765 |
1976 |
6.564.667 |
5.483.461 |
1.081.206 |
0 |
257.696 |
1979 |
7.249.346 |
6.007.453 |
1.241.893 |
42.863 |
120.851 |
1980 |
7.179.023 |
6.026.395 |
1.152.628 |
34.522 |
103.140 |
1983 |
7.337.064 |
5.707.695 |
1.629.369 |
42.494 |
104.276 |
1985 |
7.818.981 |
5.798.929 |
2.020.052 |
48.709 |
96.610 |
1987 |
7.930.668 |
5.676.358 |
2.254.310 |
50.135 |
73.533 |
1991 |
8.462.357 |
5.735.431 |
2.726.926 |
47.652 |
63.020 |
1995 |
8.906.608 |
5.904.854 |
3.001.754 |
45.793 |
67.300 |
1999 |
8.864.604 |
5.415.102 |
3.449.502 |
56.964 |
51.230 |
2002 |
8.902.713 |
5.473.655 |
3.429.058 |
55.121 |
52.653 |
2005 |
8.944.508 |
5.747.834 |
3.196.674 |
103.537 |
65.515 |
2009 |
9.519.921 |
5.681.258 |
3.838.663 |
99.086 |
76.894 |
1.3. Autarquicas
As eleições autarquicas elegem os deputados das assembleias municipais.
A abstenção tem evoluído da seguinte forma:
Estas eleições registam tradicionalmente um valor elevado de abstenção.
A diferença entre a abstenção oficial e a corrigida é em média de 1,19%, sendo que os votos em branco são em média de 95.480
Esta é a diferença maior dos quatro tipos de eleição.
Quanto à evolução em valores absolutos:
A abstenção e os votantes efectivos têm uma evolução praticamente paralela, seguindo a tendência de subida num acompanhamento do número de inscritos.
Eis o quadro com os valores em bruto:
Ano |
Total Inscritos |
Votantes |
Abstenções |
Brancos |
Nulos |
1976 |
6.454.990 |
4.173.761 |
2.281.229 |
89.073 |
88.783 |
1979 |
6.105.651 |
4.380.269 |
1.725.382 |
44.693 |
63.679 |
1982 |
6.987.106 |
4.964.370 |
2.022.736 |
87.381 |
91.403 |
1985 |
7.578.622 |
4.776.407 |
2.802.215 |
73.784 |
71.126 |
1989 |
8.110.493 |
4.936.410 |
3.174.083 |
90.114 |
80.328 |
1993 |
8.529.737 |
5.410.610 |
3.119.127 |
103.686 |
83.251 |
1997 |
8.922.182 |
5.362.609 |
3.559.573 |
117.360 |
87.584 |
2001 |
8.738.906 |
5.254.180 |
3.484.726 |
114.834 |
78.049 |
2005 |
8.843.875 |
5.389.035 |
3.454.840 |
139.012 |
90.919 |
2009 |
9.376.707 |
5.535.104 |
3.841.603 |
94.862 |
68.400 |
1.4. Europeias
Conhecidas como eleições europeias elas elegem os deputados portugueses para o parlamento europeu.
A abstenção tem evoluído da seguinte forma:
Este é o tipo de eleições com o valor mais alto de abstenção, num registo normalmente superior aos 60%.
A diferença entre a abstenção oficial e a corrigida é em média de 0,95%, sendo que os votos em branco são em média de 83.336
Os últimos dois actos eleitorais registam um aumento desta diferença, com o acto eleitoral de 2009 a registar um número de votos em branco de 165.830, praticamente o dobro da média.
Quanto à evolução em valores absolutos:
O número de votantes estabilizou enquanto o número de abstenções aumenta e acompanha o aumento do número de inscritos.
Eis o quadro com os valores em bruto:
Ano |
Total Inscritos |
Votantes |
Abstenções |
Brancos |
Nulos |
1987 |
7.787.603 |
5.639.650 |
2.147.953 |
68.475 |
74.240 |
1989 |
8.121.564 |
4.149.756 |
3.971.808 |
66.074 |
61.682 |
1994 |
8.565.822 |
3.044.001 |
5.521.821 |
48.916 |
45.320 |
1999 |
8.681.854 |
3.467.085 |
5.214.769 |
63.281 |
49.853 |
2004 |
8.821.456 |
3.404.782 |
5.416.674 |
87.442 |
47.224 |
2009 |
9.704.559 |
3.568.943 |
6.135.616 |
165.830 |
69.918 |
2. Nota sobre o Recenseamento e a Abstenção
Há alguma discussão acerca do recenseamento eleitoral ser efectuado automaticamente pelo Estado.
Isto deve-se à Lei 47/2008 que procede à quarta alteração do regime jurídico do recenseamento eleitoral.
Esta nova Lei visa simplificar e modernizar o recenceamento, assegurando a actualização permanente do mesmo.
Segundo fontes oficiais e empresas e entidades de sondagem, este novo funcionamento inscreveu eleitores que podem não estar ao corrente da sua inscrição mas também eliminou do sistema muitos eleitores fantasma, colocando Portugal na margem de erro europeia.
Há vozes que sugerem que o aumento do número de inscritos registado com a Lei tem uma consequência directa de aumento de abstenção.
Se verificarmos os gráficos anteriores com especial atenção aos valores posteriores a 2008, há de facto um aumento da abstenção que acompanha o aumento de inscritos embora não sejam equivalentes.
No entanto, no caso das eleições autarquicas não é evidente este efeito.
3. Fonte
Todos os dados disponiblizados nesta página foram retirados do site da Comissão Nacional de Eleições.
4. Ficheiros em anexo a este dossier
- 2008-08-27_Lei_47-2008.pdf (2011-01-24 02:56:08, 295.4 KB)
- autarquicas_abstenção.png (2011-02-04 02:49:09, 25.4 KB)
- autarquicas_valores_absolutos.png (2011-01-24 00:30:28, 17.9 KB)
- europeias_abstenção.png (2011-02-04 02:48:09, 23.9 KB)
- europeias_valores_absolutos.png (2011-01-24 00:30:48, 17.0 KB)
- legislativas_abstenção.png (2011-02-04 02:49:37, 31.2 KB)
- legislativas_valores_absolutos.png (2011-01-24 00:30:12, 18.6 KB)
- presidenciais_abstenção.png (2011-03-01 23:32:22, 24.8 KB)
- presidenciais_valores_absolutos.png (2011-03-01 23:32:39, 19.6 KB)
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